sexta-feira, 9 de maio de 2014

TRANSPLANTES NO CEARÁ

Número de transplantes no Ceará cresce 59% em 4 anos

Número de doadores em relação à população também é o maior do País. Altos investimentos públicos no setor e atuação da Central de Transplantes são apontados como fatores desse bom desempenho
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Bruno de Castrobrunobrito@opovo.com.br
EDIMAR SOARES
Em 2013, foram realizados 1.342 transplantes no Ceará. Na foto, procedimento realizado no Hospital de Messejana, em julho

De repente, tudo no Amazonas precisou ficar para trás. O pequeno Charles, hoje com cinco anos, apresentava inchaços e perdia proteínas demais pela urina. A referência do Ceará em tratamentos e transplantes renais trouxe a família manauara para Fortaleza. “Ele ficou um ano e meio em tratamento, mas acabou perdendo a função renal e entrou em diálise”, lembra a mãe Karen Christina Amorim, 32. Até que, em abril do ano passado, o garoto recebeu um novo rim em um dos leitos do Hospital Geral de Fortaleza (HGF). E colaborou para o Estado registrar aumento de 59,3% nos transplantes de órgãos e tecidos entre 2010 e 2013 (ver quadro).
Segundo o Ministério da Saúde, o Ceará saltou de 842 transplantes quatro anos atrás para 1.342 procedimentos no ano passado. O POVO não teve acesso às estatísticas dos demais estados brasileiros. Porém, o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes, Héder Murari Borba, classifica o desempenho do estado como “disparadamente o melhor do Nordeste e de destaque nacional.”
Além disso, é do Ceará o maior número do País de doadores efetivos em relação a grupos de um milhão de habitantes. No primeiro trimestre deste ano, o estado registrou 29,3 doadores para cada milhão. Em dezembro de 2013, o patamar era de 21,4 por milhão (já o terceiro maior do Brasil).
Borba credita o desempenho do Ceará a uma política exitosa de investimento contínuo do Governo Federal, ao trabalho da Central Estadual de Transplantes e a uma maior sensibilização popular à causa. Ele enaltece os trabalhos do HGF e do Hospital de Messejana. “Tem diminuído a desconfiança da população em relação ao sistema de transplante e as pessoas sabem que os órgãos terão um destino correto. Mas ainda existe uma negativa grande”, diz, referindo-se à proibição familiar à doação. Conforme O POVO mostrou em 7 de janeiro deste ano, 45% dos parentes de potenciais doadores não autorizaram o procedimento em 2013.

Estimativa

Coordenadora da Central do Ceará, Eliana Barbosa estima um crescimento de 10% no número de transplantes desse ano em relação aos 1.342 feitos em 2013. Ela acredita que o fato de o estado ter estrutura para realizar todo tipo de transplante de órgão e tecido foi fundamental para o aumento expressivo no quadriênio. “Somos um dos poucos estados que realizam todos os tipos. E não deixamos de fazer retirada de órgão por falta de equipe. Pelo contrário. Às vezes, não temos é paciente para receber aqui. Aí, a gente manda pra fora”, informa.
 
Karen sentiu esse empenho desde o início. “Eu fui muito bem assistida e ele é muito bem cuidado aqui. O HGF funciona muito bem na parte do transplante. Não me arrependo de ter vindo. Nem de nada do que eu fiz. Se fosse preciso, faria tudo de novo. Foram três anos de mudanças diárias. Mas todas valeram a pena. Ver o Charles fazendo xixi normalmente e indo pra escola é compensador. Ele morou muito tempo no hospital. Começou a viver a infância dele agora. Mas o transplante não é uma cura. É um tratamento que ele vai ter que fazer pro resto da vida.” 
Serviço
Central de Transplantes
Onde: avenida Almirante Barroso, 600, Praia de Iracema
Telefones: 3101 5123
Site: bit.ly/1uBKyta 
Saiba mais
A doença do pequeno Charles é conhecida também como nefrose. Trata-se da perda de proteínas pela urina. No auge da doença, ele chegou a tomar 18 medicamentos. Hoje, toma quatro para evitar rejeições do corpo ao órgão novo.
 
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem o 3º maior índice de doadores de órgãos e tecidos da América Latina. Perde apenas para Uruguai e Argentina.
Em números absolutos, o Brasil fica atrás somente dos Estados Unidos e China.
 
Nos últimos dez anos, o investimento do Governo Federal no setor de transplantes saltou de cerca de R$ 300 milhões para R$ 1,5 bilhão.

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