domingo, 3 de março de 2013

SEXO FORTE.........................................


ENTREVISTA

Sonho de liberdade

03.03.2013
No ar como a vilã Constância de "Lado a lado", Patricia Pillar fala sobre os desafios da mulher, a preservação da vida pessoal perante o público e o papel do artista na sociedade
Patricia Pillar, quem diria, é uma mulher tímida. Chega a apertar as mãos de nervoso ao posar para as fotos e, insegura, pede que a fotógrafa "a ajude" na hora de escolher os cliques que irão para as páginas. Um contrassenso vindo de alguém que é considerada uma das mulheres mais bonitas do país, mas prova apenas algo fácil de compreender após um papo com a atriz: sem qualquer sinal de afetação, ela é mesmo "gente como a gente".

Patricia Pillar diz estar orgulhosa em fazer parte da trama de João Ximenes Braga e Claudia Lage. "Fico mais satisfeita, como artista, de estar numa obra que tem coisas a dizer"

Gravando freneticamente as cenas da reta final de "Lado a lado", que termina na próxima sexta-feira, ela falou sobre o trabalho. Ainda retirando o aplique de cabelo usado para viver a vilã Constância na trama das 18h, Patricia fala, sobretudo, de liberdade. E liberdade é um dos motivos, por exemplo, que a levou a aceitar o papel, mesmo após ter feito uma outra vilã, a emblemática Flora de "A favorita".

"Quando a gente faz uma personagem tão forte quanto a Flora, a tendência é que aquilo te oprima, te enquadre. E eu detesto me sentir enquadrada. Só porque fiz uma vilã de sucesso agora não posso fazer outra? Claro que posso".

E ela não se arrependeu. Patricia se diz orgulhosa por ter participado da trama e ressalta o frescor dos dois autores estreantes - João Ximenes Braga e Claudia Lage - em sua escolha de temas como o principal motivo de sua satisfação.

"Essa novela só me trouxe alegria. Achei muito rico e saboroso passar por questões da nossa história que foram as bases para determinar o que é a cultura brasileira hoje, com o futebol, a capoeira, o surgimento das favelas", elogia. "Não vejo problema em existir entretenimento vazio, mas eu fico bem mais satisfeita como artista de estar numa obra que tem coisas a dizer".

Para Patrícia, a deformação de caráter da vilã, que tem dificuldades em aceitar as mudanças sociais e não mede esforços para manter seu status, é bem similar ao comportamento de parte da elite brasileira hoje. "Ela é como aquele pessoal que reclama de corrupção mas quer subornar o guarda, não quer pagar imposto. Reclama, mas não dá o que é seu. É egoísmo e pouco espírito de justiça, de coletividade. Infelizmente, ainda há quem se comporte dessa maneira", reclama.

A vilã de "Lado a lado" retrata o nascimento de uma parte da elite que existe até hoje, na opinião da atriz


Revoluções sociais
O papo sobre as revoluções sociais retratadas em "Lado a lado" rende uma série de reflexões entusiasmadas por parte da atriz, mas é na hora de falar dos desafios de gênero que Patricia volta a usar aquela palavrinha tão cara para ela: "liberdade". Vendida desde o início como uma trama sobre "o nascimento da mulher contemporânea", a novela das 18h mostrou desafios importantes enfrentados pelas mulheres na busca pela independência.

Hoje, já com mais experiência nesta estrada, as moças estão precisando mesmo é de equilíbrio, segundo Patricia. "Talvez o maior desafio hoje seja perceber para quê estamos buscando a liberdade. A gente foi com muita sede ao pote na tentativa de adquirir essa independência, porque era necessário. Mas toda essa gana fez a gente abrir mão de certas coisas muito valorosas para a mulher, como feminilidade, delicadeza e sutileza. A mulher está um pouco bruta. Talvez agora seja a hora de a gente aposentar um pouco as armas. Mas só um pouco", define, rindo.

Vida pessoal guardada
Patricia Pillar, por sua vez, não tem nada de bruta. Só fica irritada mesmo quando o assunto são os papparazzi. Conhecida por resguardar sua vida pessoal, ela diz que o caminho para conseguir isso é manter uma certa compostura. Mas, muitas vezes, não é o suficiente.

"O que tenho a oferecer para o público é o meu trabalho. E já tem tanto de mim nele! Minha vida pessoal não está disponível. Mas hoje em dia a gente lida com uma rede perversa. Então, às vezes você é roubado. Por que acho sim que isso é um tipo de roubo. E não gosto disso. É uma sensação ruim", diz a atriz, sem isentar o público.

"Acho que quem lê essas revistas também tem responsabilidade e precisa saber disso. O grande problema não é só você ser "flagrado comprando o jornal", já que isso é notícia agora, mas a maneira como isso é conseguido".

E é em parte por causa da quantidade enorme de fofoca e informação errada que circula por aí que Patrícia decidiu, recentemente, criar um site oficial. Previsto para entrar no ar em abril, ohttp://patriciapillar.com.br vai reunir informações biográficas e profissionais da atriz, além de sua movimentação nas redes sociais. Hoje, já inclui as fotos de Patricia no Instagram, única das redes que ela diz realmente gostar e onde costuma postar imagens de bastidores de cena, do cotidiano ou de seu cachorro. "As pessoas hoje em dia pegam tudo na internet. Mas tem muita coisa errada, já criaram Twitter com meu nome... Então achei melhor ter uma fonte na rede com informações corretas. O site já está até com um visual bonitinho".

Tecnologia
Ligada nas mudanças tecnológicas, Patricia acha que é obrigação do ator acompanhar as novas formas que as pessoas descobrem para se comunicar. "A forma de ver televisão mudou com a tecnologia. Essa produção que é feita para celular e internet tem uma coisa arejada, que é interessante para prestar atenção. Não que vá mudar o trabalho do ator na essência, mas a maneira de se expressar está sempre mudando".

Do outro lado da tela, como espectadora, a atriz analisa outras transformações dos últimos anos - não apenas na forma, mas também no conteúdo. "Em matéria de temas a gente enriqueceu muito. A nova classe média serviu para a televisão finalmente olhar para essas pessoas. Foi preciso que elas adquirissem poder de compra. Mas que bom! Porque isso fez muito bem para a nossa dramaturgia. Daí veio o gás de "Avenida Brasil", a renovação de "Cheias de charme", aquele espetáculo que foi "Subúrbia". E não é só aqui: nos Estados Unidos, a inovação de linguagem está na TV. Acho legal ver a televisão assumindo essa possibilidade que ela tem de renovação".

No controle remoto de Patricia Pillar reinam absolutos os canais de futebol. Rubro-negra de coração, ela assiste, é claro, às partidas do Flamengo. Mas não se restringe a isso: gosta de bons jogos. Acompanha o Campeonato Carioca, mas não perde as atuações de Barcelona, Real Madrid e Milan.

Televisão
Aos domingos, mais uma atração mantém a atriz em frente à tela: o "Esquenta", comandado por Regina Casé. Patricia se derrama em elogios à atração. "É o programa mais importante que a gente tem hoje na TV, pelo que ele propõe e pelo que realiza. Esse encontro que o "Esquenta!" promove é de uma generosidade... É enxergar o Brasil com a riqueza que ele tem. Ali eu vejo o respeito ao que a gente é, à nossa cultura. O programa exala o que temos de melhor, a pluralidade e tudo que a gente pode ser", defende Patricia, fazendo um contraponto com o que vê de ruim na televisão. "O "Big Brother Brasil", por exemplo, eu acho um lixo. Só mostra o que a gente tem de pior".

Após o fim de "Lado a lado", Patricia tira férias. Entre os futuros projetos estão alguns papéis do cinema, sobre os quais diz que ainda não pode falar. A atriz, que teve sua primeira experiência como diretora no documentário "Waldick, sempre no meu coração", de 2008, até tem vontade de voltar à função. Mas os personagens interessantes que lhe são oferecidos sempre acabam adiando a ideia. Não que ela esteja reclamando:

"Há uns 20 anos acho que vou largar a profissão. Mas aí aparece um novo desafio, e me ilumina outra vez. Gosto muito de ser atriz. A chance de me aproximar de tantas realidades que eu não viveria... Sempre que chega um personagem novo, eu penso: "Meu Deus, não vou saber fazer isso. Não sei nada disso!". Acho que eles aparecem para ajudar a descobrir coisas em mim. Eu pego carona nos personagens pra ir em certas regiões desconhecidas. Enriqueci minha experiência de vida com eles, evoluí, alarguei meu horizonte".

THAÍS BRITTO
AGÊNCIA O GLOBO

Nenhum comentário:

Postar um comentário