segunda-feira, 18 de março de 2013

PIOR SECA


Pior seca dos últimos 30 anos vai deixar Nordeste sem chuva pelo menos até junho

Pancadas de chuva ocasionais serão insuficientes para encher represas da região, segundo meteorologistas

Ricardo B. Labastier/8.mai.2012/AE
O baixo nível dos reservatórios aponta para uma situação cada vez mais crítica na região
A região Nordeste enfrenta uma das piores secas dos últimos 30 anos, que já afeta o abastecimento de água em diversos Estados da região. A falta de chuva já se assemelha à enfrentada no começo da década de 1980, quando milhões de pessoas também foram afetadas pela seca.
Atualmente, 1.228 cidades espalhadas em nove Estados já declararam situação de emergência. Isto representa um total de 22% dos municípios do Brasil. Já chega a 9.746.982 o número de pessoas afetadas pelas secas na região, ou seja, 5,1% da população do Brasil.
Os Estados de Pernambuco e Alagoas já adotam racionamento de água para conter os impactos da falta de abastecimento dos reservatórios. Segundo o meteorologista Fabio Rocha, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a situação não deve mudar nos próximos meses.
— Ainda há condições desfavoráveis para a chuva na região Nordeste. Exceto para o litoral, que deve continuar nos próximos meses nas condições típicas da estação.
A temperatura fica acima do normal pelos próximos meses, o que piora a sensação térmica. Pelo menos até junho, segundo Rocha, não deve chover.
Em Pernambuco, alguns reservatórios de abastecimento de água estão operando com 19% de sua capacidade. O Estado enfrenta racionamento de água para evitar problemas futuros de abastecimento.

Ricardo B. Labastier/8.mai.2012/AE
Seca atinge a região Nordeste com maior intensidade nos últimos dois anos
Assim como o colega do Inpe, o meteorologista Celso Oliveira, do Tempo Agora, projeta que o cenário vai permanecer praticamente igual nos próximos meses. Ele alerta que a chuva ocasional que deve cair sobre o Nordeste não será suficiente para encher as represas da região.
— Pancadas de chuva não conseguem reverter a situação atual. Isso porque, quando chove, a água é absorvida pelo solo para alimentar o lençol freático, e, só depois, é que enche os reservatórios. Precisaria chover muito para reverter esta situação.
Outro problema apontado pelo meteorologista é o curto período de chuvas na região, que já está chegando ao fim sem nenhum acúmulo significativo. Esta situação já se repete pelo terceiro ano seguido, o que agrava a situação.
— A situação é dramática e, mesmo que chova, vai continuar dramática. É um ou outro reservatório onde acaba caindo uma chuva muito boa, enche, e ele aguenta. Mas isso tem sido exceção. A regra, infelizmente, é o reservatório com baixo acúmulo de água.
Rio São Francisco
Os meteorologistas esperam que o nível dos reservatórios chegue a até 70% do limite, mas só no litoral. No interior da região, não deve passar dos 50%. Para solucionar esse problema, o especialista do Inpe defende a transposição do rio São Francisco.
— São Pedro não vai vir. O clima do Nordeste é assim, não tem jeito. A principal solução é a transposição do rio São Francisco. As obras devem ser retomadas com mais velocidade.
No início de março, a presidente Dilma Rousseff disse que as obras de transposição do Rio São Francisco serão concluídas em 2015. Em 2014, porém, uma parte da interligação já será entregue.
Para o professor Ideval Souza Costa, geólogo do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo), a transposição resolverá uma parte do problema. Ele ressalta, porém, que é necessário investir em outras medidas para espalhar a distribuição de água por mais regiões no curto prazo.
— Tem tanta tecnologia boa, [como implantar] poços artesianos, recolher orvalho, colocar em cisternas, recolher água de chuva. De maneira imediata, o que vejo é a construção de poços artesianos e não a transposição do São Francisco, que demanda mais tempo e dinheiro.
Parte das sugestões apontados por Costa já consta do Programa Água Para Todos, do Ministério da Integração Nacional. Os poços artesianos previstos para ser construídos dentro do programa, por exemplo, dentro do programa, só são construídos em áreas públicas, com o objetivo de evitar o uso com interesses pessoais.
Mesmo com todos os projetos, a situação é crítica agora. Como um funcionário de uma empresa de abastecimento da região que não quis se identificar comentou, "o negócio é rezar ao bom Deus para mandar chuva".

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