Delator da Petrobras deixou Dilma sem sentido
Do Blog de Josias de Souza, sobre o caso da propina na Petrobras e as consequências para o Governo Dilma:
Dilma Rousseff acredita que a delação do ex-diretor preso da
Petrobras Paulo Roberto Costa não abala a sua administração. “Eu acho
que não lança suspeita nenhuma sobre o governo, na medida em que ninguém
do governo foi oficialmente acusado”, disse ela, em timbre enfático.
Perdidos em meio às perversões que o aparelhamento do Estado produz, a
presidente e seu governo inocente lembram muito as virgens de Sodoma e
Gomorra.
“O governo tem tido em relação a essa questão uma posição
extremamente clara”, Dilma prosseguiu. Muito clara, de fato. Tão clara
quanto a gema. “Foram órgãos do governo que levaram a essa investigação.
Foi a Polícia Federal, não caiu do céu. Foi uma iniciativa da PF e
também de outros órgãos, como Ministério Público e Judiciário. O governo
está investigando esta questão.” Isso é que é governo eficiente. Ele
mesmo desvia, ele mesmo investiga. E a presidente se autoabsolve.
Recordou-se a Dilma que o nome de um de seus ministros, Edison Lobão,
consta da lista de supostos recebedores de propinas prospectadas na
Petrobras. E ela: “Eu preciso dos dados que digam respeito, ou que
tenham alguma interferência no meu governo. Enquanto não me derem os
dados oficialmente, não tenho como tomar uma providência. Ao ter os
dados, eu tomarei todas as providências cabíveis, inclusive se tiver de
tomar medidas mais fortes.”
Pode-se acusar Dilma de muita coisa, menos de incoerência. Xerife do
setor energético desde o primeiro reinado de Lula, ela sempre foi 100%
fiel aos interesses de José Sarney. Em 2004, ainda ministra de Minas e
Energia, levou ao microondas um respeitado presidente da Eletrobras,
Luis Pinguelli Rosa, para acomodar no lugar dele Silas Rondeau, afilhado
político de Sarney.
Em 2005, alçada à Casa Civil pela queda do companheiro José Dirceu,
Dilma cacifou o nome de Rondeau para substituí-la no comando da pasta de
Minas e Energia. Com isso, forneceu matéria-prima para que a Polícia
Federal comprovasse sua eficiência. Decorridos dois anos, o ministro de
Sarney foi pilhado pela PF na Operação Gautama.
Acusado de apalpar um envelope contendo propina de R$ 100 mil,
Rondeau deixou o cargo para se defender. E foi substituído, com o aval
de Dilma, por Edison Lobão, outro ministro da cota de Sarney. Eleita
presidente, em 2010, Dilma manteve Lobão na Esplanada. Demitindo-o
agora, cutucaria o morubixaba maranhense. Algo que nem Lula jamais ousou
fazer. Melhor negociar.
No início do ano, quando Dilma promoveu sua última reforma
ministerial, eufemismo para troca de cúmplices, o PMDB guerreava por um
sexto ministério. E o presidente do PT federal, Rui Falcão, tratou de
acomodar as coisas em pratos pouco asseados: “Não vamos ceder um novo
ministério para o PMDB. Agora, concessão para discutir projeto de lei,
espaço em estatal, para isso estamos abertos à negociação.”
O delator Paulo Roberto Costa é resultado desse tipo de arranjo que
levou os governos do PT a abrigar as “indicações partidárias” nos
“espaços” de empresas estatais. Paulinho, como Lula o chamava, foi
indicado em 2004 pelo PP do mensaleiro morto José Janene. Nomeado
diretor de Abastecimento, passou a servir a uma joint-venture partidária
que reunia, além do PP: PT, PMDB e alas do PTB. Deixou a Petrobras em
2012, já sob Dilma. Era um escândalo esperando para acontecer.
Ao dizer que a delação de Paulinho “não lança suspeita nenhuma sobre o
governo”, Dilma fica desobrigada de fazer sentido. Candidata à
reeleição, ela enfrenta a crise ética que engolfa alguns dos principais
acionistas do conglomerado governista à maneira do avestruz. Foge da
realidade enfiando a cabeça na ilógica: “Ninguém do governo foi
oficialmente acusado.” Então, tá! Ficamos assim.
Não se fala mais nisso.
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